domingo, 29 de abril de 2012

PAIS ESPECIAIS TÊM FILHOS ESPECIAIS

Há algum tempo ando pensando em escrever um post para, de alguma forma, dar força às mães e pais que acabaram de receber uma criança deficiente nas suas vidas. Deficiente...essa palavra é muito difícil de se pronunciar e de aceitar no princípio. Talvez seja o maior dos tabus no início.
 O choque inicial te transfere pra um outro mundo, onde você só consegue ouvir a própria voz e de algumas pouquíssimas pessoas que conseguem te ajudar. Muita gente quer estar ao seu lado nessa hora em que tudo o que você deseja é não ter ninguém por perto.
 O processo de digestão dessa nova situação é lento e as pessoas, na ânsia de querer te reerguer, acabam atropelando esse tempo que deveria ser só seu. É complicado aceitar que "você falhou".  O processo é permeado de dúvidas e muita culpa. E é natural que no princípio busquemos culpados. Você se culpa, culpa à alguém que possa ter te desejado mal, culpa até mesmo a Deus. Daí vem a fase da super proteção. Você quer proteger seu filho do mundo, dos cometários maldosos, das vistas preconceituosas. Se pudesse, você colocaria esse serzinho dentro de você de novo, porque - na sua ignorância- você acredita que afastar o mundo do seu filho é o melhor pra ele. E, de repente, você se vê até altas horas da madrugada pesquisando sobre a deficiência do seu filho na internet, eu mesma cansei de ler monografias até as 3 da manhã quando a Maria nasceu. Esse conjunto de reações irracionais nos fragiliza ainda mais nesse começo, mas é um processo "ultra natural" e super necessário. É o que nos leva a nos livrarmos dos nossos próprios preconceitos.
Quando você entende a deficiência e a aceita, essa palavra perde uma tonelada de peso. Porque, na realidade, não é a condição de deficiência que pesa tanto, mas a palavra em si. Acredito que o começo é tão dolorido porque nossos próprios medos e ignorância são tão profundos, que não nos damos conta do quanto a medicina está evoluída no campo da reabilitação.
Não existem falhas ou culpados, existe simplesmente uma nova realidade à qual você terá que se adaptar.
O primeiro passo para sair desse "limbo psicológico" é entender que a genética é complexa mesmo, não é como um programa de computador que está matematicamente calculado pra dar resultados 100% positivos.
 Desde criança ouço a minha mãe dizer simples e sabiamente que a natureza não é retinha. Todos temos nossas limitações físicas ou intelectuais. Todos precisamos de algum tipo de muleta pra realizarmos nossas atividades. Eu mesma, sem meus óculos não sou capaz sequer de dizer que horas são. Algumas pessoas usam aparelho nos dentes, outras cadeira de rodas. É simples assim!
Não há o que ser aceito, existe algo muito maior: aquele serzinho que precisa ser amado e acalentado. Além das dificuldades naturais de um recém nascido, ele vai ter que lidar com outras dificuldades relacionadas à sua deficiência, vai ter que lidar com o preconceito do mundo lá fora.
Nós pais temos que lembrar sempre que não podemos esperar que o mundo se adapte aos nossos filhos, mas podemos ensinar aos nossos filhos como se adaptar ao mundo.
Eu sei bem que o começo é desesperador, mas nenhuma solução vem"a jato". A evolução é lenta e por mais que queiramos o melhor pros nossos filhos, não podemos jamais criar expectativas quanto a sua evolução. Devemos ser entusiastas de cada pequeno ganho como se este fosse um "gol em final de campeonato". E, no final das contas, a felicidade de ver aquele serzinho (que parecia tão frágil naquele começo difícil) se encaminhar para a independência é muito maior do que qualquer outra sensação já sentida anteriormente.
Todo processo que é natural em uma criança com habilidades motoras normais, para as crianças deficientes é trabalhoso, calculado e fruto de muito empenho. É por isso que cada pequeno movimento tem gosto de vitória e aqui em casa é sempre comemorado com muita festa, pulos, palmas e gritaria. A Maria fica toda orgulhosa com seus ganhos e doidinha com a farra dos pais e isso faz com que ela fique motivada a partir pra uma próxima etapa, para novo nível de dificuldade.
Apesar da Maria ainda não conseguir andar sem aparelhos, e mesmo com o tutor tem ainda bastante dificuldade, ela já ganhou tanta independência que, não raramente, me esqueço da sua deficiência. E a realidade é bem essa: O amor não tem deficiência, não tem raça, não tem credo..é simplesmente amor e ponto! Ai, como esse amor é grande!!!!
Hoje, passados mais de 3 anos do nascimento da Maria, depois de ter sobrevivido à muitas tormentas, depois do amor, o sentimento que sobressai é o orgulho. Aprendi muito com a minha filha e todos os dias aprendo uma nova lição. Hoje posso dizer sem dúvida alguma, sem hipocrisia nenhuma que sou muito grata a Deus por ter me enviado essa árdua e deliciosa missão. Não troco a minha filha por milhares braços e pernas perfeitos, porque ela é simplesmente muito maior e muito melhor do que tudo isso!
Quando uso este blog pra falar das minhas experiências com a Maria, não é pra expor a minha filha e sim pra mostrar ao mundo que deficiência não é tabu, deficiência não é ineficiência.
Quando a Maria nasceu, eu busquei força nas experiências de outras mães. Por isso me sinto na obrigação de retribuir essa força que foi tão essencial pra que eu me tornasse a mãe que eu sou, e em especial, pra me tornar a Mãe que a Maria necessita que eu seja.
O meu conselho aos pais e mães de primeira viagem nessa jornada de reabiltação (ou seria habilitação?), é que tenham muito amor, dedicação e paciência. Esse é o segredo de uma fórmula que nunca dá errado.
"AO NASCER UMA CRIANÇA DEFICIENTE, NASCEM TAMBÉM UMA MÃE E UM PAI ESPECIAIS. AFINAL, SÓ PAIS ESPECIAIS TÊM FILHOS ESPECIAIS."
Amem muito, cuidem sempre, beijem, cheirem, apertem... o amor é a mais poderosa das terapias!






*Algumas pessoas não estão conseguindo postar cometários, então se quiserem escrever algo pra mim, o meu e-mail é alina.by@hotmail.com .


5 comentários:

  1. parabens amiga pela sua coragem,voce tem muita garra,voce e mae guerreira com muito orgulho saude pra voces bjs

    ResponderExcluir
  2. Obrigada!!!
    Não há limites pra fazer feliz a pessoa que mais amo neste mundo!
    Gosto de dividir isso com as pessoas que passam por experiências parecidas com as minhas para tentar ajudar e evitar que se sintam fragilizadas ou diminuídas por alguma situação ou pessoa.
    Somos todos especiais de alguma forma.
    Sei que tenho muitos acertos, mas também erro..sou humana, não sou especialista...mas quando erro é sempre buscando acertar.
    Ler comentários como o seu me dá muita força!
    Bjos

    ResponderExcluir
  3. Alina, te enviei um e-mail para saber mais sobre a Duda! Adorei a história dela e gostaria de te parabenizar pela luta e pela garra que motivam sempre, né? Já passei por isso também e sei como é!

    Parabéns pela filha linda, beijos!

    ResponderExcluir
  4. Respostas
    1. Oi Camila, não vou parar jamais, assunto é o que não falta, o problema é que eu invento fazer milhares de coisas ao mesmo tempo.
      Fico super feliz em poder ser útil ao dividir minhas experiências com a Maria, esse é um dos objetivos do blog.
      Sempre que quiser trocar alguma experiência ou mesmo conversar sobre o assunto, pode contar comigo!!!
      Bjos

      Excluir